25/03/2008

Lixo é fonte de energia elétrica ecologicamente correta

Última Hora News - 24/03/2008 11:15
Por: Hebert França

"Matar dois coelhos com uma cajadada só". Esse ditado popular exemplifica bem o que aconteceria se utilizássemos o lixo para produzir energia elétrica. Dois dos principais problemas da sociedade brasileira hoje, a escassez de energia elétrica e a destinação do lixo, poderiam ser resolvidos com uma ação combinada: o aproveitamento de resíduos para a geração de quilowatts.

A conversão de parte do lixo em energia elétrica não é novidade. Vários países adotam a medida há anos. Entretanto, até julho de 2000, a produção de energia elétrica era monopólio estatal no Brasil. Só agora, com a mudança do modelo institucional do setor elétrico, tornou-se possível a geração de energia elétrica a partir do lixo com a participação da iniciativa privada. "Esse é o momento para implementarmos a energia via lixo", alardeia Sabetai Calderoni, professor da USP, consultor da ONU, autor do livro "Os Bilhões Perdidos no Lixo", em sua 4ª edição, e tido como um dos mais renomados estudiosos em meio ambiente, energia e lixo do país.

A energia elétrica via lixo pode ser obtida de duas formas: pela compostagem da fração orgânica e pela incineração da parte seca. Segundo estudos de Sabetai, a parte orgânica representa cerca de 60% do lixo domiciliar nacional, enquanto a porção seca fica em torno de 30%. Os 10% restantes são rejeitos não aproveitáveis. Numa cidade que gera 350 toneladas/dia de lixo, as 210 toneladas de orgânicos forneceriam cerca de 2,5 MWatts. A fração seca, apesar de menor, produziria 3,5 MW devido ao maior poder calórico de seus componentes: borracha, madeira, plástico, papel. Esses 6MW totais seriam suficientes para abastecer 60 mil residências. Em comparação com outras fontes de energia, uma vantagem do metano é a possibilidade de armazenamento do gás para a geração de energia elétrica no horário de pico, entre 17h00 e 19h00.

Mesmo perdendo na produtividade, o aproveitamento da parte orgânica é uma alternativa ecologicamente mais interessante. Sabetai explica que a compostagem, processo biológico que transforma os resíduos orgânicos em fertilizante e metano, quando feita nos digestores das usinas, não agride o meio ambiente. "É um atenuador de impactos. O lixo depositado em lixões e aterros decompõe-se naturalmente, a céu aberto, o metano liberado é um dos gases responsáveis pelo aumento da temperatura do planeta, o efeito estufa", acrescenta.

Da parte seca do lixo, o professor considera mais lucrativo separar o alumínio, o aço e o vidro e devolvê-los às indústrias para reciclagem. "Para os outros materiais é interessante fazer uma análise de mercado e verificar o que é mais produtivo, o reaproveitamento ou a incineração para geração de energia", diz ele. A emissão de poluentes como as dioxinas e os furanos, custo ambiental que inviabilizava esse tipo de energia, foi amenizada com a instalação de filtros para a retenção de poluentes. Vale lembrar que as dioxinas e os furanos constam da lista dos "doze sujos", poluentes que tiveram sua emissão limitada em recente Convenção em Estocolmo, Suécia.

Para um aproveitamento racional do lixo urbano, Sabetai criou as Centrais de Reciclagem Integral. Estrutura, que como o nome diz, integra todas as atividades relacionadas ao tratamento do lixo. "As centrais evitam que 90% do lixo vá para os aterros", proclama seu idealizador. Segundo ele, aproximadamente 70 municípios negociam a implementação dessas unidades. Para ser viável, o volume mínimo necessário de resíduos é de 200 t/dia, quantidade produzida por uma cidade com entre 300 e 350 mil habitantes. A potência mínima instalada de 3 MW, instituída pelo governo, também impede a geração de energia com menor quantidade de detrito.

Pelo projeto de Sabetai, as centrais devem começam a agir na fonte. Para cada 300 residências há um responsável pela coleta que instruirá a população sobre a forma correta de separação do lixo. "Onde há coleta seletiva, a triagem é simplificada", justifica o professor. Para esse trabalho junto às pessoas, Sabetai considera os carreteiros e catadores ideais. Desenvolvendo a atividade sob a forma de cooperativa, acredita o pesquisador, esses trabalhadores informais obteriam melhores rendimentos, uma vez que o atravessador será excluído do processo.

Nenhuma central está funcionando. "São necessários pelo menos doze meses para montar toda a estrutura", informa Sabetai. A pleno vapor, ele acredita que os custos dos municípios com o lixo, em média 7% dos recursos totais, poderão se reduzir a zero. Aterros sanitários com maior vida útil; redução do tráfego de caminhões de lixo; diminuição da emissão de poluentes; esses são, segundo o professor, alguns dos benefícios para a cidade com a adoção das centrais. O lixo também produzirá retorno financeiro seja para a prefeitura, seja para as concessionárias, com a venda de quilowatts, fertilizantes e de materiais para reaproveitamento.

Comentários Nelson Reis

O desperdício da energia contida nos Resíduos Sólidos Urbanos - RSU, que muitos ainda chamam de lixo, está cada vez mais ocupando a atenção de pesquisadores e técnicos que se voltam para o assunto.

Já com um certo atraso está a discussão nos âmbitos decisórios governamentais, principalmente os de níveis municipais, que ainda pensam que a solução para a disposição dos RSU sejam os aterros.

Há que se abrir os olhos para as soluções que saem das academias e do respeitável nível tecnológico e criativo de nossos pensadores deste assunto.

Oxalá que mais pessoas se interem por este assunto para que deixemos de jogar fora ou querer enterrar a energia que temos nos RSU e que também possamos dar condições dignas de trabalho para uma camada expressiva de excluídos que ainda dos "lixões" sobrevivem.

Um comentário:

rudyane disse...

Oii, achei muito interessante a matéria sobre a transformação de lixo em energia elétrica. Gostaria de apresentá-la na escola e de saber mais a respeito. De que forma a população pode contribuir para esse processo? Rudyane,16.

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